quarta-feira, 28 de julho de 2010

Obrigado, Helena Pinheiro!

Sabe aquilo que eu falei aqui de a letra "Mediterrânea" ter ficado sem melodia?

Pois bem, a minha parceira e madrinha musical Helena Pinheiro resolveu a questão e fez uma bela música. Olha a "demo" aí:



MEDITERRÂNEA
(Leandro Fregonesi / Helena Pinheiro)

Sais do Mar Egeu
Águas de Jasmim
Pedras de Turin
Flores de Madri
Luzes de Paris
Frutas do Irã
Cheiros de Avelã
Ouros, mirras, chás

Véus de muita cor
Ventos de Israel
Cravos de Istambul
Luas pelo céu
Áfricas do Sul
Sons de Gibraltar
Velas de Kabul
Só você e eu
E o mar

.

A propósito, eu e Helena somos amigos - e como me honra ser amigo dela! - há uns 15 anos e nossa parceria tem nos proporcionado muita coisa boa nesta estrada musical.

Eu gravei a nossa "Pra Quem é de Choro" no meu disco "Festa das Manhãs, com lindo arranjo de Mauro Diniz e o bandolim de Marcílio Lopes. Este choro foi uma primeira ideia de letra que ela havia me mandado e eu terminei com o que faltava da letra e com a melodia. Esta nossa música tem sido bastante tocada aqui no Rio na Rádio Roquete Pinto (94,1 FM) no programa "Choro, Chorinhos e Chorões", da apresentadora Clarice Azevedo.



PRA QUEM É DE CHORO
(Helena Pinheiro / Leandro Fregonesi)

Choro... Mas choro sem reclamar
Que é hora de aproveitar o som do choro
Lamento da madrugada, dedilhadinho
Música de calçada no cavaquinho
A emoção delicada faz acordar passarinhos

Choro... Mas choro de alegria
Vestida de fantasia a alma chora
Então se faz bailarina, bem de mansinho
Brilho de purpurina tem meu chorinho
E numa noite divina faz acordar passarinhos

Mão ligeira do mestre do choro
Que me ensinou a tocar
Faço um breque, uma pausa, um repique
Pra quem é de choro chorar
Me emociona ver essa moçada
Que hoje é tão aprendiz
Se encantando com o encanto do choro do meu país

.

Helena mora em Brasíla.

Um dia, ela estava pelo Rio e fomos juntos pra uma Roda de samba que estava sendo organizada pelo amigo Ciraninho, na Barra.

Conversamos muito sobre um monte de bobagens e naquela noite, por muitos motivos, o papo girou em torno das relações amorosas e sobre como elas podem ser surpreendentes em suas idas e vindas, em seus erros e acertos.

E como, muitas vezes, os casais se reencontram após um tempão separados para refazer a história interrompida.

Quando se reencontram, "parece ontem".

Muitas cervejas depois, e antes de eu perder a chave do carro (isso aconteceu antes da Lei Seca... hehehe), comecei a escrever uma letra sobre este assunto na toalha de papel da mesa do pagode.

Helena levou a letra com ela, para fazer um samba. Quando veio de novo ao Rio, o samba estava pronto.



PARECE ONTEM
(Leandro Fregonesi / Helena Pinheiro)

PARECE ONTEM
TEMPO PAROU
E TE GUARDOU PRA MIM

E FOI ASSIM
QUE EU DESCOBRI
QUE O AMOR NÃO TEVE FIM
NÃO ME ESQUIVEI
NÃO TE ESQUECI
NÃO TE CONTEI O QUE EU VIVI

TAMBÉM CHOREI
E FUI FELIZ
FOI POR UM TRIZ
AMEI O AMOR QUE BEM ME QUIS
ME PREPAREI PRA TE ESPERAR
ME PERFUMEI, BANHO DE MAR
EU ARRANJEI UM BOM LUGAR
PRA GENTE SER FELIZ
VOCÊ MUDOU
MUDEI, ENFIM
VOCÊ VOLTOU
TAMBÉM VOLTEI
DE VOLTA AO CAIS
E AO MESMO MAR
AO TE ENCONTRAR
EU APORTEI

.

Nossa música mais bonita, porém, na minha opinião, é a "Quem Sabe".

Se não é a mais bonita, pelo menos foi a que mais gostei de compor com a Helena.

Eu estava em Brasília, numa das muitas vezes em que fui fazer show lá e nós marcamos um chopp no Carpe Diem, um dos bons bares da Capital.

No meio do papo, estávamos falando de que? De relacionamentos.

E lancei:

"Vamos fazer uma música HOJE? A gente não sai deste bar enquanto não fizer uma música. Fechado?"

Ela topou. E começamos a esboçar, no guardanapo, a música:

"Havia sim... Saudade".

E fomos costurando os trechos da canção que nascia.

Era assim: eu fazia um trechinho, ela fazia outro trechinho e parávamos.

Bebíamos, conversávamos e a música ficava ali na mesa esperando a hora de ficar pronta de vez.

Mas deu uma travada na inspiração e a gente meio que se convenceu de que seria melhor terminar outro dia.

Até que eu fui ao banheiro descarregar os chopps e voltei, já sem saber meu nome, pelo meio do bar cantando:

"E eu ri de mim... Verdaaaade!"

Helena gargalhava aos tubos.

Isso desopilou a nossa inspiração e a música nasceu ali mesmo, com os graçons já levantando as cadeiras e sugerindo:

"Vocês não gostariam de fechar a conta?".

Nós: "Calma, amigo, a música está quase pronta!"

Garçom: "Hã?! Essa música aí vocês estão FAZENDO agora?"

Nós: "Sim, estamos compondo..."

Garçom: "Sério? Está ficando bonita!"

Nós: "Obrigado! Estamos terminando. Duas saideiras e a conta. Pode ser?"



QUEM SABE
(Helena Pinheiro / Leandro Fregonesi)

Havia sim saudade
Não por você, por medo
Mas fui assim sem pressa
E eu não guardei segredo

Quem viu meu silêncio
Vazar dos olhos
Pensou que eu pudesse
Evitar o tempo
Pensou que eu pudesse
Estancar na alma
A febre de não ter
Amor por perto

E eu ri de mim... Verdade
Ah, se eu pudesse falar de tudo
Dos erros, quem sabe, de acertos
Quem sabe, de nós... Ah...
Quem sabe de nós?
Quem sabe...

.

Curiosidade:

Como muitos sabem, morei um tempo em Brasília, onde conheci Helena Pinheiro, uma carioca-feliz-em-Brasília, contagiante fã de Élton Medeiros, que é das mais importantes musicistas de lá, por tudo que ela representa na Cidade.

Sabe quando uma pessoa ama e CULTIVA a música com tanta alegria que até transborda? Pois é... Quem já teve o privilégio de romper madrugadas tocando ao lado dela sabe: Helena é mestra não só pelo talento que tem, mas também pelo carinho e respeito com que trata a música ao seu redor e, em especal, os sambas.

Quando eu tinha uns 15 ou 16 anos, nos tornamos amigos, pois frequentávamos as mesmas rodas musicais da Capital. Eu tocava percussão e, aos poucos, fui mostrando os meus primeiros sambas pra rapaziada de lá.

E ela me incentivava, dizendo:

"Esse moleque é enjoado pra fazer música!"

Isso foi quando eu estava começando a compor.

Tão no início que eu nem sabia como tocar no cavaquinho as minhas próprias músicas.

E pedi ajuda pra Helena, que tocava cavaco, violão e flauta, além de cantar e compor lindamente. Pedi numa cara de pau que me envergonha até hoje:

"Helena, posso ir um dia na sua casa você me ensina a tocar os meus sambas? É que eu tô indo pro Rio e queria levar uma fitinha com essas músicas gravadas pra mostrar lá".

Se fosse qualquer outra pessoa, desconversaria.

Mas ali estava a minha GENEROSA nova amiga e futura parceira, a quem passei a chamar de Madrinha, tempos depois. Ela me encorajou e respondeu:

"Sim, vai lá em casa segunda-feira que é um dia mais tranquilo e eu te ajudo nisso."

E na segunda-feira, no horário marcado - 20h - eu cheguei. Saí de lá às 5h da manhã, depois de aprender minhas músicas, aprender muito sobre amizade e generosidade, beber alguns uísques e ouvir, fascinado, o CD "João Nogueira e Paulo César Pinheiro" da série Parceria, disco que ela havia me recomendado.

Guardo esta noite no meu relicário de lembranças como uma das mais importantes e significativas para a minha vida. Sabe porquê? Ouçam a gravação abaixo. Vocês vão entender o valor que teve a ajuda da Helena para mim naquele contexto. Quem ajudaria um garoto novo cantando assim? Não sei não...


"Quarta-feira de Cinzas" (Leandro Fregonesi)

.

A amizade e a cumplicidade musical que nasceu entre mim e Helena Pinhero me inspira para muitas batalhas nessa carreira musical que escolhi pra mim.

Helena foi minha primeira incentivadora fora da minha família. Foi o primeiro olhar crítico que me aprovou. Foi o primeiro elogio que veio de alguém que não me conhecia.

Este incentivo está guardado aqui no peito e se manifesta forte sempre que é necessário.

Mas tem um momento em particular que é realmente mágico. Lembro dela e das coisas que ela me disse lá no comecinho embrionário da minha carreira, quando faço um samba novo e penso, na mesma hora:

"Esse a Helena vai gostar de ouvir!"

Encerro este texto por aqui, sinceramente, com lágrimas nos olhos de lembrar dessas histórias, com uma frase que também aprendi com ela. Quando algum músico faz algo muito bonito no instrumento, ela diz, com um sorrisão generoso:

"Obrigado, Fulano!"

.

Então, pra ela:

OBRIGADO, HELENA PINHEIRO!


Foto tirada em Brasília, após um show em que ela cantou comigo.

.

Aguardem! Vem aí o primeiro disco da Helena Pinheiro, com sua obra linda obra autoral, contendo, para minha alegria, as nossas "Parece Ontem" e "Quem Sabe".

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