sexta-feira, 9 de julho de 2010

Cavalo de Tróia e Força Maior


Camarim do Canecão, no lançamento do CD do Diogo, que gravou "Força Maior"

"Dois astronautas voltaram no tempo e presenciaram a Vida, Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão de Jesus de Nazaré". Assim se apresenta o livro "Cavalo de Tróia" (autor: J.J. Benítez), que li fascinado, numa fase minha de busca intensa por informações sobre a vida e a obra do Cristo.

Antes desse livro, eu já havia ficado atônito com o filme "Paixão de Cristo", do Mel Gibson, que tem argumento semelhante ao do "Cavalo de Tróia". E antes do filme, eu já vinha lendo umas coisinhas a esse respeito.

Ambos, livro e filme, tratam da inimaginável força física de um Gigante que estava muito além do seu tempo - do nosso tempo - e dizia que seu reino não era deste mundo, além de afirmar que, apesar das muitas moradas na Casa do Pai, o caminho é um só.

.

E ficam as minhas perguntas de sempre:

Talvez porque Deus seja um só? Uma só? Deus é homem? Ou é mulher? É um ser? Ou uma força maior? Está acima? Abaixo? Entre nós? É a natureza? Ou é o progresso? Está nas atitudes? Ou nas intenções? Está vivo? Onde? Está com saúde? Ou agoniza? É uma equipe? Organizada? Caótica?

E quem será o Deus de Deus?

Eita porra!

.

O fato é que "Cavalo de Tróia" foi um livro marcante pra mim.

Deu vontade de fazer um samba de roda falando de Deus.

E foi num bate papo de butiquim, aqui em Copacabana, que eu mostrei o embrião do refrão pro Ciraninho, meu parceiro de muitos sambas, irmão, camarada e amigo de fé.

Papo vai, papo vem e o refrão definitivo ficou simples e nos agradou:

"Deus...
Louvado seja Deus."

Fácil e objetivo, como devem ser os textos que pretendem dar algum recado.

Quer ver o texto simples de um "Recado"?
"Amai-vos uns aos outros."

Convenhamos: é simples, né?

.

E o mote do resto do samba veio da nossa vontade de falar sobre essa coisa escrota de se brigar, discutir, não-tolerar e fazer picuinhas por motivos religiosos.

Estávamos comentando que todas as religiões, em certos aspectos, são caminhos bons. Todas valem. Todas levam a algum lugar psicologicamente melhor. Todas consolam. Todas, de alguma maneira, esclarecem alguma coisa a alguém. Todas louvam alguma força maior que nós não sabemos ao certo o que é.

Talvez o "único caminho" seja não desistir da busca.

.

Acho que chamamos de "Deus" tudo aquilo que nos foge ao entendimento.

E a partir daí, cada um vai na sua viagem, na sua busca pessoal, com sua crença e sua bagagem nessa aventura da vida.

A minha viagem, com minha bagagem, é:
"Creio em Deus porque seria realmente bom que ele existisse".

Outra gelada?

.

Voltando.

.

Saímos do refrão pra primeira e o samba foi se desenrolando.

E volta pro refrão, na estrutura de um samba de roda.

E cai pra segunda.

Dias depois, na hora de fechar a segunda, nos encontramos com o Diogo Nogueira, nosso parceiro neste samba, que foi sugerindo trechos de letra e de melodia para compor o que ainda faltava.

.

Curiosidade 1:

O Diogo tem tatuado "Jesus Cristo" no corpo.

Eu e Ciraninho também. No fundo do peito.

Curiosidade 2:

Neste dia, 15/01/2009, em que terminamos o "Força Maior", horas antes, eu e Ciraninho estávamos juntos, na Quadra da Lapa, entregando o nosso samba-de-embalo que concorreria no Bloco Simpatia É Quase Amor e que, poucos dias depois, nos daria o tetra-campeonato consecutivo no Bloco (2006, 2007, 2008 e 2009). Um feito inédito. Outro dia eu falo mais disso.

E, da Lapa, ligamos pro Diogo:
"Aí Cumpadi, estamos na pilha de fechar o 'Força Maior' HOJE-AGORA. Onde você tá? Em reunião na Barra? Estamos indo aí!!! Tem cavaco?"

Curiosidade 3:

Resposta do Diogo: "Pô, Bicho, vem que eu dou um jeito. Vou levar o cavaco do Alceu (Maia), que está aqui comigo na reunião e disse que empresta. Serve?"

.

Maravilha! Samba fechado a 6 mãos, num quiosque da Praia da Barra, com o cavaco do Alceu Maia, no final de uma madrugada que nos brindou com um nascer do Sol daqueles de fazer foto:


Foto do meu celular, às 5:40h do amanhecer do dia (seguinte) em que nos encontramos, eu, Ciraninho e Diogo Nogueira, para terminar o "Força Maior".

Cantamos o samba "no clima" umas cinco ou seis vezes e o Diogo gostou tanto que, imediatamente, soltou a frase que todo compositor ama ouvir: "Vou gravar, meu Cumpadi!"

E o que era para ser um simples samba de roda, ganhou uma introdução bonitona e ficou assim:


Gravação de Diogo Nogueira, no CD 'Tô Fazendo a Minha Parte"

FORÇA MAIOR
(Leandro Fregonesi / Diogo Nogueira / Ciraninho)

Minha força é a fé
Que carrego no fundo do peito
Quando nada dá pé
É amém, é axé
Não tem jeito
No terreiro Ele é Oxalá
No Oriente Ele é Alá
Ninguém sabe como explicar
Essa força maior
Ele sempre estende a mão
Não importa a religião
Não tem raça, não tem nação
Porque Deus é um só

Deus
Louvado seja Deus

Deus está no coração que concede o perdão
No coração que é feliz vendo o outro feliz
É o perfume que vem da natureza
Flor que renasce no solo da impureza
Uma estrela a me guiar
Manto que aquece a família
E protege o meu lar

Ele é o céu, água do mar
Luz do luar, Sol do Verão
Enche de paz minha oração
Me dá guarida
Vento que traz inspiração
Força da vida
Ventre de todo Universo
No verso da minha canção

.



.

Foi assim que, das páginas do "Cavalo de Tróia", nasceu "Força Maior".

8 comentários:

  1. Muito bom ver como nasceu este samba lindo e inspirador!!!!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pela visita. Agredecemos a preferência. Voltem sempre.

    ResponderExcluir
  3. Que o Gigante te abençoe sempre. Ao longo de TODA sua trajetória. :) bjs

    ResponderExcluir
  4. que história deliciosa!! Fiquei imaginando como não deve ter sido gostoso este processo de criar e compor uma música como esta, cheia de signifcados, profunda, que ainda por cima terminou com uma amanhecer na praia. Eita!!
    beijo grande

    ResponderExcluir
  5. É, são momentos únicos, que vêm carregados de boas energias. Ver o Sol subir na praia é mesmo divinal.

    Estando entre amigos e com a música por companhia, melhor ainda.

    ResponderExcluir