segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O QUE VAI SER DA VIDA?

Hoje pela manhã gravei uma demo deste samba novo que não sai da minha cabeça...



O QUE VAI SER DA VIDA?
(Leandro Fregonesi)

Sem perceber
O amor caiu nas garras da cruel desunião
E foi a gota d’água que faltava pra ilusão
Se sobrepor ao velho encantamento

Eu e você
Casal daquele tipo que ninguém jamais pensou
Que alguma vez na vida fosse abrir e aqui estou
Sem rumo, sem prazer, sem fingimento

E nada que eu disser
Vai resolver a intriga da questão homem-mulher
Depois daquela briga que ninguém pôde entender
Me diz o que fazer, me explica...

Mas fica se puder
Me dê alguma dica do que eu posso oferecer
Pra que essa despedida não precise acontecer
Senão, o que vai ser da vida?

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Clareou - Semente deu frutos...

Estou com saudade da nossa “Roda de Compositores” que aconteceu este ano durante 4 meses, todas as quintas-feiras, no Semente.

Na roda, só cantávamos sambas autorais nossos e dos parceiros que iam lá dar uma moral e uma canja conosco. Era muito bom.

Quem sabe um dia o projeto volte, né?

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Para relembrar, vai o flyer que utilizamos e que, claro, é apenas relíquia, pois a roda não existe mais.



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Uma das idéias da roda era juntar compositores para formar parcerias.

Eis um samba-maxixe que nasceu lá e lá mesmo foi cantado algumas vezes.



CLAREOU
(Leandro Fregonesi / Wandinho Ribeiro / Rafael dos Santos)

Clareou
E o amor dessa vez valeu
Protegeu esse meu coração
Preservou a paixão que nasceu
E deu asas a imaginação
Acendeu
A fogueira da emoção
Desde então, foi mais forte que eu
Quem viveu uma vida de ilusão
Hoje tem que dar graças a Deus

E assim
Coração descansou enfim
Cessou a procura do bem maior
De cór aprendi o que é ser feliz
No meu peito fechou cicatriz
Já não há mais saudade

Vou me trancar
A sete chaves no teu coração
E nunca mais olhar
Nos olhos da solidão
Oferecer bem mais
Do que julguei capaz
Deixar a flor da paz
Nascer no nosso chão

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Valeu, Wandinho! Valeu, Rafinha! Meus parceiros queridos neste samba...

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dia Nacional do Samba

Em homenagem a este dia bonito e a todos aqueles que fazem Samba, deixo aqui uma das minhas filhotas mais recentes...




TUDO QUE A MINHA CANETA ESCREVE
(Leandro Fregonesi)

Ai...
Meu samba que não cai no chão por nada
Chegou e levantou a batucada
Meu verso carregado de axé
É...
Tem força, tem magia, tem beleza
E até naquelas horas de tristeza
Meu samba é o que me faz ficar de pé

E a roda se inflama
No bambolear das cadeiras
Daquela cabrocha que é muito maneira
Nossa brincadeira fica bem melhor

Bem melhor quando eu canto Salgueiro, Portela e Mangueira
Um verso que vem lá da Tamarineira
Me lembra o Quilombo do mestre Candeia

Clareia a lua no céu
Nas cordas de um gênio chamado Noel
Sinhô, Pixinguinha, Ismael e Chiquinha Gonzaga
Nogueira, Pinheiro, Dona Ivone Lara
São bambas pra quem eu tiro o meu chapéu

Com Zeca, Martinho, Guineto e Beth Carvalho
A Cruz do Arlindinho marcou meu baralho
Com Sombra, Sombrinha, Aragão, Neoci e Leci

Um verso do Deni ensina
A respeitar a Jovelina
Jesus, Clementina é a voz que no céu faz um lume
Na constelação que ainda tem Clara Nunes
Geraldo Pereira, Cartola e Camunga

Teresa... Cristina Buarque
Nei Lopes, Wilson Moreira e o saudoso Alfaiate
No bate-rebate dos versos chegou Renatinho
Com Xande, Com China, com Gabrielzinho
Caciques que são os grandes partideiros

Wanderley, Rufino, Toninho Geraes
Roque, Sanfillipo e Moacyr Luz
Seu Jorge, Ana Costa, Rogê, Gabriel, Mart’Nália
Quinteto no samba e o fogo se espalha
No mundo inteiro o batuque reluz

O meu coração quer ouvir Jamelão e Roberto Ribeiro
Peguei meu pandeiro e toquei um Tantinho do velho Aniceto
Então foi chegando por perto uma rapaziada
Com a mesma receita lá da Velha Guarda
E um monte de flecha certeira no arco

Diogo, Cirano, Rafinha, João e Baiaco
Pedrinho, Moyseis, Wandinho, DiCáprio
Mingo, Inácio, Chacrinha, Café e Thybau
Tudo isso é Revelação do Fundo de Quintal
E um encontro no meio do ano vira um carnaval

Monarco é o capitão do barco que nos ensinou
Que um samba valente também é um samba de amor
Então meu eterno respeito a Buarque de Holanda
No meu coração é o samba que manda
Sem raça, sem credo, sem essa de cor

Francis, Vinicius, Dolores, Jobins e Caymmis
Não posso jamais cometer esse crime e deixar de citar
Luiz Carlos da Vila
E a vida vai dando seu jeito e firmando a corrente
Na terra e no céu tem um monte de gente
Que só fez do samba o seu ganha pão

O samba não é o meu Dom como é pro Das Neves
Mas tudo que a minha caneta escreve
Eu garanto que vem é do meu coração

Eu quase esqueci, mas do bolso tirei uma cola
Pra agradecer Paulinho da Viola,
Guilherme de Brito, Medeiros, Marçal, que emoção!

O samba não é o meu Dom como é pro Das Neves
Mas tudo que a minha caneta escreve
Eu garanto que vem é do meu coração

E tem mais um monte de gente que fez o seu nome
No samba, Elizeth, Elis e Alcione
Mostraram que a voz é que faz a canção

O samba não é o meu Dom como é pro Das Neves
Mas tudo que a minha caneta escreve
Eu garanto que vem é do meu coração

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Esse samba foi feito, e talvez não por mera coincidência, no dia do falecimento do Deni de Lima, numa porrada só, da forma como ele versava...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

8 ARTISTAS, ÀS 7 EM PONTO


No próximo dia 9 de novembro, o Projeto 7 em Ponto reunirá, numa mesma noite, 8 artistas que estão no atual "Panorama da Lapa", tendo a curadoria de Augusto Martins.

Pra quem não sabe, o Projeto 7 EM PONTO é uma herança deixada pelo antigo projeto 6 E MEIA e acontece todas as terças-feiras. A ideia é muito bacana, pois dá pra quem trabalha no Centro do Rio ir direto, após o expediente, ouvir o melhor da música brasileira (e claro, do samba, nesse dia especial).

Participarei deste show, juntamente com:

. Eduardo Gallotti
. Simone Lial
. Janaína Moreno
. João Sabiá
. Joana Duah
. João Martins
. Elisa Addor

E todos estaremos muito bem acompanhados pelo grupo MULATO VELHO.

Os preços são populares e o espetáculo acontecerá no belíssimo Teatro Carlos Gomes.

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Vanessa Alves está fazendo a cenografia.

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O repertório está repleto de surpresas. Vamos cantar o que há de melhor no bairro mais boêmio do Rio de Janeiro, grandes clássicos e algumas autorais.

E o Samba, o rei do terreiro, será reverenciado neste encontro inédito, numa noite que promete entrar para a história do Teatro Carlos Gomes, da Lapa e da nova música brasileira.

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Vai perder?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

CANTA, PORTELA! A FINAL...

CONVITE GERAL!

Nessa sexta-feira, dia 15 de outubro, às 23h, acontece a FINAL da escolha do Samba-enredo da Portela para o carnaval de 2011.

Nós estaremos lá, a parceria completa, com um samba que nos enche de orgulho por estar passando tão bem na quadra, com todos os segmentos da Escola cantando.

Ouça a gravação:



Os autores: Ciraninho, João Martins, Diogo Nogueira, eu e Rafael dos Santos.

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Veja como está sendo AO VIVO, na voz do nosso puxador Luizinho Andanças:



Essa passada foi SEM a Bateria Estandarte de Ouro do Mestre Nilo Sérgio!

Quer ver como fica COM a Bateria? É só aparecer por lá.

Anote o endereço: Rua Clara Nunes, 81 - Oswaldo Cruz.

Contamos com a presença de todos os nossos amigos, torcedores e, principalmente de todos aqueles que simplesmente gostam de cantar o nosso samba.

Preparem o fígado, o coração e os pulmões...

Até!

Axé!

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A Letra:

PORTELA 2011 - Samba concorrente
Compositores: Diogo Nogueira, Ciraninho, Rafael dos Santos,
João Martins e Leandro Fregonesi
Intérpretes: Luizinho Andanças

ESTRELAS VÃO ME GUIAR
POR ÁGUAS QUE GUARDAM SEGREDOS
SINGRANDO O AZUL INFINITO
O HOMEM SE LANÇA E VENCE O MEDO
DESAFIANDO A FÚRIA DO MAR
RAIOS, TROVÕES ESCONDENDO O LUAR
SERES DA MITOLOGIA, LENDAS, MISTÉRIOS, MAGIA...
E SOB A LUZ DE ALEXANDRIA
EU VI ANTIGAS CIVILIZAÇÕES, EMBARCAÇÕES DO ORIENTE
NAS ÍNDIAS ME ENCANTEI, POR SEUS CAMINHOS NAVEGUEI

O CÉU E O MAR VÃO SE ENCONTRAR
UM NOVO MUNDO REVELAR
RIQUEZAS E BELEZAS
UM PARAÍSO A EXPLORAR

MAREJOU O CORAÇÃO DO NEGRO QUE FICOU
E VIU PARTIR O SEU IRMÃO DE COR
NA CARAVELA DO INVASOR
NAS MARÉS, O VENTO FORTE DA AMBIÇÃO
LEVOU CORSÁRIOS E PIRATAS
A COBIÇAR TESOUROS DESSE CHÃO
E LÁ VAI MINHA JANGADA ENFRENTANDO A MADRUGADA
PELO GIGANTE BRASIL
DE NATUREZA ABENÇOADA
TERRA ADORADA, DE ENCANTOS MIL!
E NESSE RELICÁRIO... NO PORTO CENTENÁRIO...
A ÁGUIA TRANSBORDA EMOÇÃO, DESAGUA A INSPIRAÇÃO
E AS SETE ARTES ETERNIZAM
O LINDO AZUL DO NOSSO PAVILHÃO!

CANTA PORTELA
NO REINO DE IEMANJÁ!
VEM NO BALANÇO DAS ONDAS DO MAR
FAZ O MEU RIO SAMBAR!

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FALANDO POR MIM...

Não importa o que aconteça na final. Podemos não ganhar, da mesma forma como podemos ganhar e amanhecer o dia 16 de outubro cantando pelas ruas de Oswaldo Cruz e Madureira os versos:

"CANTA PORTELA
NO REINO DE IEMANJÁ..."

O que importa é que estamos FELIZES e satisfeitos por estarmos dando para a querida Portela, a Majestade do Samba, uma EXCELENTE opção de samba-enredo.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

7 ANOS DE CARREIRA

Muita coisa boa já aconteceu até aqui e tenho certeza que muito mais coisa boa ainda virá.

Este show será especial...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Só aplausos?

Fui assistir ao filme “Uma Noite em 67”, que é um documentário sobre o Festival daquele ano e seus principais Artistas.

No meio do filme, me veio a pergunta que não quer calar: onde foram parar as vaias?

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Reparem:

Quem gostava, aplaudia. Com emoção.

Quem não gostava, vaiava. Com a emoção oposta.

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A possibilidade de ser vaiado fazia com que o Artista repensasse o que fazer diante do público.

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Mas as vaias ficaram no século passado, né?

Agora tudo é aplauso!

Qualquer um canta qualquer coisa e: clap, clap, clap!

Se a quantidade de palmas não for suficiente, o artista remenda:

"Quem gostou faz barulho aí, PÔ!"

E quem não gostou faz o que? Apenas silêncio?

PÔ! A vaia era o "barulho" de quem não gostou.

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"Aplauso x vaia" virou "barulho x silêncio"?

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Aplaudir tornou-se uma imposição social velada. É a única opção. É pseudo-elegante.

Mas aplaudir não era apenas UMA entre DUAS opções?

O aplauso não era para ser um apoteótico "sim" contrapondo-se ao desconcertante "não" da vaia?

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O "sim" sem o "não" não perde totalmente o seu sentido?

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Mas o entendimento moderno é o outro: quem aplaude é gente boa, tá feliz, bem resolvido e de bem com a vida.

Quem vaia tá amargurado, tá triste, deve estar fudido, com algum problema sério ou deve ter brigado em casa.

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Então, "aplauso x vaia" deixou de ser uma medida do desempenho do Artista e passou a ser uma medida da psicologia do ESPECTADOR.

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"Gente, vamos bater palma pro Fulano que acabou de cantar!"

Entenda-se: "Gente, vamos fingir que todo mundo gostou, né?"

Que solidariedade às avessas é essa? Ser elegante mentindo?

E quem não gostou da apresentação - geralmente imposta - do Fulano?

É obrigado a bater palma bem fraquinho, em sinal de desaprovação?

Como assim? Aplaudir para desaprovar?

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Alguém vai dizer: "O Fregonesi tá maluco. Quem foi que disse que pega mal vaiar?"

Não é que pega mal...

Mas esse mesmo alguém vai te perguntar:

"Está tudo bem com você? Você está vaiando?"

"Sim, comigo tá tudo ótimo! Quem não tá nada bem é aquele artista ali..."

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E ninguém vai deixar claro pro artista que ele mandou mal?

Tadinho.

Vai mandar mal a vida toda, jurando que mandou bem?

Não seria melhor ter vaiado pra depois o cara melhorar e MERECER um caloroso e justo aplauso?

Muitos responderão: "Não! Vamos dizer DEPOIS, com calma, em particular pro cara que ele mandou mal..."

Mas ele NUNCA vai entender que mandou mal se, na verdade, todo mundo "aplaudiu pra caramba".

E talvez ele pense que você só sabe é reclamar de "tudo". E você vai ficar com cara de otário e fama de chato, mesmo que esteja coberto de razão.

Porque só quem aplaudiu é bacana.

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“Vaias x aplausos” eram as dicas no “Jogo da Vida” do Artista.

APLAUSOS: Avance 5 casas. Você mandou bem.

VAIAS: Volte 10 casas e tente novamente. Você mandou mal.

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Dizem que os Artistas da "Época dos Festivais" eram melhores que os atuais.

Discordo 100%.

Os Artistas de agora são tão bons quanto.

Mas concordo que na "Época das VAIAS" os Caras ficavam mais criteriosos para não passarem vergonha.

Portanto, não ERAM melhores. TORNAVAM-SE melhores.

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Conclusão:

Atualmente, com esse monte de aplauso sobrando por aí, nós, Artistas, temos que reafirmar a nossa música e o nosso ponto-de-vista artístico APESAR DOS APLAUSOS que sempre recebemos.

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Momento cultural:

No citado Festival de 67, a classificação final foi:

1º- Ponteio (Edu Lobo / Capinam)
2º- Domingo no Parque (Gilberto Gil)
3º- Roda Viva (Chico Buarque)
4º- Alegria, Alegria (Caetano Veloso)
5º- Maria, Carnaval e Cinzas (Luiz Carlos Paraná)

Este 5º lugar foi um SAMBA cantado por Roberto Carlos!

Veja (a partir do minuto 3:40) as vaias e os aplausos que ele recebeu:



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Conclusão 2:

Grandes Artistas são feitos de vaias e aplausos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Nosso Samba - Portela 2011



Em primeira mão, o nosso samba concorrente na Portela para o Carnaval 2011!



G.R.E.S. PORTELA 2011
Enredo: "Rio, Azul da Cor do Mar"

Compositores:
Diogo Nogueira
Ciraninho
Rafael dos Santos
João Martins
Leandro Fregonesi

Samba alusivo - introdução:
"O Mar Serenou" (Candeia)

Intérprete:
Luizinho Andanças

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ESTRELAS VÃO ME GUIAR
POR ÁGUAS QUE GUARDAM SEGREDOS
SINGRANDO O AZUL INFINITO
O HOMEM SE LANÇA E VENCE O MEDO
DESAFIANDO A FÚRIA DO MAR
RAIOS, TROVÕES ESCONDENDO O LUAR
SERES DA MITOLOGIA, LENDAS, MISTÉRIOS, MAGIA...
E SOB A LUZ DE ALEXANDRIA
EU VI ANTIGAS CIVILIZAÇÕES, EMBARCAÇÕES DO ORIENTE
NAS ÍNDIAS ME ENCANTEI, POR SEUS CAMINHOS NAVEGUEI

O CÉU E O MAR VÃO SE ENCONTRAR
UM NOVO MUNDO REVELAR
RIQUEZAS E BELEZAS
UM PARAÍSO A EXPLORAR

MAREJOU O CORAÇÃO DO NEGRO QUE FICOU
E VIU PARTIR O SEU IRMÃO DE COR
NA CARAVELA DO INVASOR
NAS MARÉS, O VENTO FORTE DA AMBIÇÃO
LEVOU CORSÁRIOS E PIRATAS
A COBIÇAR TESOUROS DESSE CHÃO
E LÁ VAI MINHA JANGADA ENFRENTANDO A MADRUGADA
PELO GIGANTE BRASIL
DE NATUREZA ABENÇOADA
TERRA ADORADA, DE ENCANTOS MIL!
E NESSE RELICÁRIO... NO PORTO CENTENÁRIO...
A ÁGUIA TRANSBORDA EMOÇÃO, DESAGUA A INSPIRAÇÃO
E AS SETE ARTES ETERNIZAM
O LINDO AZUL DO NOSSO PAVILHÃO!

CANTA PORTELA
NO REINO DE IEMANJÁ!
VEM NO BALANÇO DAS ONDAS DO MAR
FAZ O MEU RIO SAMBAR!

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Se você é daqueles aficcionados por samba-enredo, aqui vai a sinopse que foi entregue a todos os Compositores:



G.R.E.S. PORTELA 2011
Enredo: "RIO, AZUL DA COR DO MAR"

Autores: Marta Queiroz, Cláudio Vieira e Roberto Szaniecki
Carnavalesco: Roberto Szaniecki

"Porto de Sapucahy, verão de 2011

Soltem as amarras e deixem as velas enfunar ao sabor do vento.

Vejam o cais se distanciar e, com ele, as lembranças que ficaram, Na bagagem, trazemos sonhos e esperança. Nossos olhos já não conseguem divisar o que é mar, o que é céu, e tentam traçar uma linha de equilíbrio no horizonte. Singramos no azul!

Subamos à gávea para conversar com as estrelas, companheiras de saudades e solidão. Ora, direis, ouvir estrelas... Por que não?

Estrelas são quase tudo o que temos. Além delas, trazemos instrumentos que nos ajudarão a decifrá-las. Elas se espalham pelo céu formando desenhos e um deles nos chama a atenção. É uma águia! Sim, uma águia em forma de constelação. E será esta que escolheremos para nos guiar pela imensidão.

Dizem que o destino está traçado nas estrelas. Ensinam que precisamos de muita coragem para enfrentar os perigos e, sobretudo, determinação. E, com fé em Deus, navegaremos pelos sete mares que abrirão os portais do coração.

No Reino de Poseidon, tempestade e bonança

Estamos a muitas braças do continente, nessa noite tenebrosa.

A fúria do vento força a resistência dos cabos que sustentam o mastro principal. O tecido das velas parece que não conseguirá resistir. Ondas se agigantam, cobrindo o casco. Raios, relâmpagos e trovões abrem fendas no firmamento.

Começamos a enfrentar o desafio do desconhecido. E, sem que tenhamos tempo de raciocinar, nos deparamos com o medo escondido em nossos porões.

Das profundezas surgem criaturas fantásticas! São polvos, serpentes e dragões abrindo uma estrada na espuma, levando-nos por um turbilhão sem fim.

Ao abrirmos os olhos, porém, tudo se transforma. Cavalos marinhos conduzidos por guerreiros transportam o cortejo de reis e rainhas que governavam a crença de civilizações que desapareceram no mar abissal.

O que tenta nos dizer a tempestade, afinal?

Respeitar o que é do mar, mas nunca temer. Acima de toda maldade, o bem sempre há de vencer.

Mare Nostrum, sob a luz de Alexandria

Estas galés que cruzam o nosso caminho transportam toras de cedro, tapetes, tecidos, cerâmicas, corantes, jóias, peças de metal e outros produtos que as mãos do homem foram capazes de moldar.

Do Oriente partem gigantescas embarcações. São os chineses oferecendo novas trocas, ampliando suas rotas, construindo relações.

São mercadorias que remontam aos tempos dos primeiros navegantes, que se lançaram ao mar. Para trocá-las em outros portos, fenícios e egípcios não imaginavam que também deixariam vestígios de sua cultura milenar.

Gregos e romanos inauguraram um tempo de conquistas, ampliando as frentes de comércio e os limites de seus territórios.

Da distante Alexandria, brilha uma chama, transformando a noite em dia.

A caminho de Calicut

Debruçados sobre mapas, lendas e antigos relatos tentamos encontrar o caminho que nos levará às misteriosas terras das especiarias. É para lá que apontam nossos olhos, mergulhados em fascínio.

Para proteger este comércio, mercadores árabes semearam lendas de monstros e gigantes que devoravam quem ousasse cruzar os seus domínios.

Tudo mentira. O pesadelo agora é um sonho. As águas ganham novos matizes e como atrizes representam cada uma de nossas expectativas: cravo, canela, açafrão, flor de lótus e também porcelanas, tapetes, sedas e jóias que não se cansam de brilhar.

As mais variadas fragrâncias se misturam no ar. Conseguimos, estamos em Calicut! Mas não devemos nos demorar.

Atlântico, em direção ao Pacífico

O Velho Mundo despertou para um novo século sabendo que não estava mais só. Por trás do horizonte, entre o nascente e o poente, existiam outras terras e riquezas a se alcançar.

Eram terras primitivas, que ficavam muito além da calmaria e daqui podemos vê-las. Ao dia, parece uma deslumbrante miragem, ocupada por nativos, adornadas pela praias e a plumagem dos pássaros mais bonitos que já se viu. Eis a visão do paraíso tropical.

São tantas terras que nossos olhos se perdem ao tentar abraçá-las. Elas se escondem sob florestas, percorrem montanhas e flutuam nas nuvens, onde guardam segredos e mistérios de antigos impérios, que se curvam diante do Sol.

Quantas riquezas brotam de suas nascentes! Ouro, prata, pedras preciosas e uma madeira estranha, que tinge de sangue o tecido mias nobre. Dizem que o futuro a perpetuará na força de um gigante chamado Brasil.

Mare Liberum, numa ilha do Caribe

Quantas estradas se abrem neste azul sem fim! O Atlântico é cortado em todas as direções. Embarcações de diversas bandeiras transportavam cana-de-açúcar, café, tabaco e algodão.

Já não existem fronteiras para o comércio, nem medidas para a ambição. Outras galés rumam para a África, inaugurando a rota do tráfico negreiro. Trazem milhões de escravos, despejando-os em solo americano. Aceleram a produção, deixando uma dor que não se apaga e uma chaga que ainda marca o sentimento humano.

Negros vão, corsário vem. Omar já não pertence nem à Armada do Rei. Agora, é terra de ninguém.

Brasil, entre riquezas e belezas

Abençoada natureza, que sempre encantará os olhos de quem veleja no aconchego dessa Baía. A mesma brisa que traz lembranças do passado, sopra na direção do futuro, ensinando que o mar foi, é e será a principal via de comunicação entre os povos mais distantes.

Salve, Porto centenário, e esse intenso vai-e-vem do comércio exterior. Foi aqui que começaram e depois se intensificaram nossas relações com o estrangeiro.

Esse marulhar fustiga a todo instante, recordando investidas e o leva-e-traz. As ondas não se cansam de contar todos os tesouros que ficaram para trás; mas ainda guardam nas profundezas a mais preciosa das riquezas, que, por muito tempo, nos impulsionará.

Rio de Janeiro, ponto de encontro de brasileiros de Norte a Sul, de Leste a Oeste; que recebe de braços abertos o jangadeiro e outros irmãos do Nordeste. Rio das praias, das raias, cruzeiros, pescadores da noite e da vida marinha. Terra de São Sebastião, paraíso dos golfinhos.

Porto dos Amores, Fonte de Inspiração

Aqui da proa, quando olhamos para trás, não conseguimos dar conta do tempo que passou. Orientados pelas estrelas, desafiamos tempestades, enfrentamos inimigos e aprendemos que navegar é preciso - mas na mesma direção!

Foi assim que descobrimos novos continentes, inauguramos a rota do oriente e encontramos em pleno mar a Fonte da Inspiração.

Traduzimos os sentimentos em música, transportamos a emoção para a ópera e o teatro, recriamos aventuras em romances, no cinema eternizamos sagas e amores em páginas de clássicos memoráveis. Quando pintamos uma marina, tentando retratar a fascinação que existe em tanto mar, deixamos o azul brincar na tela.

Descobrimos que o mar é apenas um tema: ele tem início, meio e fim, é um enredo. E toda essa experiência começou quando vencemos o medo, desfraldando as velas do Carnaval.

Pois, o amor é azul.

O céu é azul.

O mar é azul.

E entre eles, navega a nossa querida Portela!"

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Outro dia, com a calma necessária, eu escrevo sobre esta nossa parceria, que já tem quase 10 anos: quando começou, como aconteceu, como foram os caminhos até aqui e outras curiosidades.

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Boa audição e bom Carnaval a todos!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Clipe no Youtube

Assista aqui:



Música: "DO TAMBOR AO TERÇO" (Leandro Fregonesi / Rafael dos Santos)

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MAKING OF - Fotos



O fotógrafo Jeovan Junior clicou os bastidores do clipe.



Larissa Sarmento, a "Maria Benvinda de Aparecida".



Gustavo Nasr, diretor de fotografia, com a câmera HD. Ao fundo, Marcio Vianna (de preto), diretor e roteirista, orienta os participantes.



Léo Ávila buscando o melhor ângulo.



Roda de samba. Um panorama geral do set.



Dona Lizete nos quitutes.



Na Rua do Lavradio, gravando a cena final, enquanto a equipe se reúne para solucionar detalhes da iluminação (ao fundo).



Os amigos gravaram pequenas cenas para os cortes.



Marcio Vianna, Juliana Bach e Thiago Sacramento: direção e produção



Depois da gravação, uma foto de lembrança.


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FICHA TÉCNICA - Clipe: LEANDRO FREGONESI - DO TAMBOR AO TERÇO

Produção: Café com Leite Produções

Equipe/Produção

Marcio Vianna: Direção / Roteiro

Thiago Sacramento: Direção / Edição de imagens

Gustavo Nasr: Direção de Fotografia / Câmera

Léo Ávila: Iluminação / Câmera

Carla Berri: Direção de Arte

Brunna Napoleão: Figurinos

Jeovan Junior: Fotógrafo

Mari Vieira: Maquiagem

Juliana Bach, Lizete Oliveira e Lerrânia Lima: Produção executiva

Caio Flavoni e Renan Lima: Assistentes de produção

Atriz convidada: Larissa Sarmento

Artistas / Músicos da roda: Adão Jorge, Adílson Fumaça, André Rios, Daniel Karin, Felipe Barros, Guilherme Sá, Guilherme Oliveira, João Martins, Jorge Alexandre, Júlio Erthal, Monique Kessous e Thaís Motta

Atrizes / Figurantes: Carina Lopes, Carla Pecegueiro, Carolina Borges, Eugênia Rodrigues, Joana Rodrigues, Marcos César, Rany Carneiro e Rodrigo Ventura

Local e data da gravação: Santo Scenarium, Rio de Janeiro, em 29/10/2008.

Agradecimentos Especiais: Célia Menezes e Thiago Espósito (Rio Scenarium e Santo Scenarium)

Agradecimentos aos funcionários da Casa: Ricardo D’Amorim, Ane Brito, Cátia Caldeira, João Carlos e Mariluce Pereira

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DO TAMBOR AO TERÇO
(Autores: Leandro Fregonesi e Rafael dos Santos)

Álbum: Festa das Manhãs (FRG Cultural / Tratore)

ISRC: BR-LE6-05-00007

Direção Musical: Maestro Ivan Paulo

Músicos: Mauro Diniz, Marcos Esguleba, Belôba, Gordinho, Jorge Gomes, Jamil Joanes, Alceu Maia, Ze Carlos, Carlinhos 7 Cordas, Jaguara, Fernando Merlino, Monique Kessous, Tania Machado, Thaís Motta, Suley, Chico Donadoni e Marcello Furtado

Música gravada, mixada e masterizada nos estúdios da Cia. dos Técnicos, Rio de Janeiro.

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E assim fica o registro de agradecimento a todos que viabilizaram esta produça!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Alcione e Diogo

Para os curiosos de plantão, olha só o que eu achei:



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O jornalista Mauro Ferreira escreveu em seu blog:

"Parceria de Leandro Fregonesi com Ciraninho, o samba romântico "Amor Imperfeito" ganhou registro ao vivo feito pelo cantor Diogo Nogueira em dueto com Alcione. O samba se ajustou perfeitamente ao estilo da Marrom, uma das convidadas da gravação do segundo DVD de Diogo".

E reforçou, em outro post:

"Amor Imperfeito (Leandro Fregonesi e Ciraninho) tem toda pinta de hit radiofônico".

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Será?

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O DVD também contou com as participações de Chico Buarque, Ivan Lins e Hamilton de Holanda.

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Curiosidade:

Toda vez que o Diogo ouvia a gente cantando esta música, ele dizia:

"Esse samba é pra ALCIONE gravar!"


quarta-feira, 28 de julho de 2010

Obrigado, Helena Pinheiro!

Sabe aquilo que eu falei aqui de a letra "Mediterrânea" ter ficado sem melodia?

Pois bem, a minha parceira e madrinha musical Helena Pinheiro resolveu a questão e fez uma bela música. Olha a "demo" aí:



MEDITERRÂNEA
(Leandro Fregonesi / Helena Pinheiro)

Sais do Mar Egeu
Águas de Jasmim
Pedras de Turin
Flores de Madri
Luzes de Paris
Frutas do Irã
Cheiros de Avelã
Ouros, mirras, chás

Véus de muita cor
Ventos de Israel
Cravos de Istambul
Luas pelo céu
Áfricas do Sul
Sons de Gibraltar
Velas de Kabul
Só você e eu
E o mar

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A propósito, eu e Helena somos amigos - e como me honra ser amigo dela! - há uns 15 anos e nossa parceria tem nos proporcionado muita coisa boa nesta estrada musical.

Eu gravei a nossa "Pra Quem é de Choro" no meu disco "Festa das Manhãs, com lindo arranjo de Mauro Diniz e o bandolim de Marcílio Lopes. Este choro foi uma primeira ideia de letra que ela havia me mandado e eu terminei com o que faltava da letra e com a melodia. Esta nossa música tem sido bastante tocada aqui no Rio na Rádio Roquete Pinto (94,1 FM) no programa "Choro, Chorinhos e Chorões", da apresentadora Clarice Azevedo.



PRA QUEM É DE CHORO
(Helena Pinheiro / Leandro Fregonesi)

Choro... Mas choro sem reclamar
Que é hora de aproveitar o som do choro
Lamento da madrugada, dedilhadinho
Música de calçada no cavaquinho
A emoção delicada faz acordar passarinhos

Choro... Mas choro de alegria
Vestida de fantasia a alma chora
Então se faz bailarina, bem de mansinho
Brilho de purpurina tem meu chorinho
E numa noite divina faz acordar passarinhos

Mão ligeira do mestre do choro
Que me ensinou a tocar
Faço um breque, uma pausa, um repique
Pra quem é de choro chorar
Me emociona ver essa moçada
Que hoje é tão aprendiz
Se encantando com o encanto do choro do meu país

.

Helena mora em Brasíla.

Um dia, ela estava pelo Rio e fomos juntos pra uma Roda de samba que estava sendo organizada pelo amigo Ciraninho, na Barra.

Conversamos muito sobre um monte de bobagens e naquela noite, por muitos motivos, o papo girou em torno das relações amorosas e sobre como elas podem ser surpreendentes em suas idas e vindas, em seus erros e acertos.

E como, muitas vezes, os casais se reencontram após um tempão separados para refazer a história interrompida.

Quando se reencontram, "parece ontem".

Muitas cervejas depois, e antes de eu perder a chave do carro (isso aconteceu antes da Lei Seca... hehehe), comecei a escrever uma letra sobre este assunto na toalha de papel da mesa do pagode.

Helena levou a letra com ela, para fazer um samba. Quando veio de novo ao Rio, o samba estava pronto.



PARECE ONTEM
(Leandro Fregonesi / Helena Pinheiro)

PARECE ONTEM
TEMPO PAROU
E TE GUARDOU PRA MIM

E FOI ASSIM
QUE EU DESCOBRI
QUE O AMOR NÃO TEVE FIM
NÃO ME ESQUIVEI
NÃO TE ESQUECI
NÃO TE CONTEI O QUE EU VIVI

TAMBÉM CHOREI
E FUI FELIZ
FOI POR UM TRIZ
AMEI O AMOR QUE BEM ME QUIS
ME PREPAREI PRA TE ESPERAR
ME PERFUMEI, BANHO DE MAR
EU ARRANJEI UM BOM LUGAR
PRA GENTE SER FELIZ
VOCÊ MUDOU
MUDEI, ENFIM
VOCÊ VOLTOU
TAMBÉM VOLTEI
DE VOLTA AO CAIS
E AO MESMO MAR
AO TE ENCONTRAR
EU APORTEI

.

Nossa música mais bonita, porém, na minha opinião, é a "Quem Sabe".

Se não é a mais bonita, pelo menos foi a que mais gostei de compor com a Helena.

Eu estava em Brasília, numa das muitas vezes em que fui fazer show lá e nós marcamos um chopp no Carpe Diem, um dos bons bares da Capital.

No meio do papo, estávamos falando de que? De relacionamentos.

E lancei:

"Vamos fazer uma música HOJE? A gente não sai deste bar enquanto não fizer uma música. Fechado?"

Ela topou. E começamos a esboçar, no guardanapo, a música:

"Havia sim... Saudade".

E fomos costurando os trechos da canção que nascia.

Era assim: eu fazia um trechinho, ela fazia outro trechinho e parávamos.

Bebíamos, conversávamos e a música ficava ali na mesa esperando a hora de ficar pronta de vez.

Mas deu uma travada na inspiração e a gente meio que se convenceu de que seria melhor terminar outro dia.

Até que eu fui ao banheiro descarregar os chopps e voltei, já sem saber meu nome, pelo meio do bar cantando:

"E eu ri de mim... Verdaaaade!"

Helena gargalhava aos tubos.

Isso desopilou a nossa inspiração e a música nasceu ali mesmo, com os graçons já levantando as cadeiras e sugerindo:

"Vocês não gostariam de fechar a conta?".

Nós: "Calma, amigo, a música está quase pronta!"

Garçom: "Hã?! Essa música aí vocês estão FAZENDO agora?"

Nós: "Sim, estamos compondo..."

Garçom: "Sério? Está ficando bonita!"

Nós: "Obrigado! Estamos terminando. Duas saideiras e a conta. Pode ser?"



QUEM SABE
(Helena Pinheiro / Leandro Fregonesi)

Havia sim saudade
Não por você, por medo
Mas fui assim sem pressa
E eu não guardei segredo

Quem viu meu silêncio
Vazar dos olhos
Pensou que eu pudesse
Evitar o tempo
Pensou que eu pudesse
Estancar na alma
A febre de não ter
Amor por perto

E eu ri de mim... Verdade
Ah, se eu pudesse falar de tudo
Dos erros, quem sabe, de acertos
Quem sabe, de nós... Ah...
Quem sabe de nós?
Quem sabe...

.

Curiosidade:

Como muitos sabem, morei um tempo em Brasília, onde conheci Helena Pinheiro, uma carioca-feliz-em-Brasília, contagiante fã de Élton Medeiros, que é das mais importantes musicistas de lá, por tudo que ela representa na Cidade.

Sabe quando uma pessoa ama e CULTIVA a música com tanta alegria que até transborda? Pois é... Quem já teve o privilégio de romper madrugadas tocando ao lado dela sabe: Helena é mestra não só pelo talento que tem, mas também pelo carinho e respeito com que trata a música ao seu redor e, em especal, os sambas.

Quando eu tinha uns 15 ou 16 anos, nos tornamos amigos, pois frequentávamos as mesmas rodas musicais da Capital. Eu tocava percussão e, aos poucos, fui mostrando os meus primeiros sambas pra rapaziada de lá.

E ela me incentivava, dizendo:

"Esse moleque é enjoado pra fazer música!"

Isso foi quando eu estava começando a compor.

Tão no início que eu nem sabia como tocar no cavaquinho as minhas próprias músicas.

E pedi ajuda pra Helena, que tocava cavaco, violão e flauta, além de cantar e compor lindamente. Pedi numa cara de pau que me envergonha até hoje:

"Helena, posso ir um dia na sua casa você me ensina a tocar os meus sambas? É que eu tô indo pro Rio e queria levar uma fitinha com essas músicas gravadas pra mostrar lá".

Se fosse qualquer outra pessoa, desconversaria.

Mas ali estava a minha GENEROSA nova amiga e futura parceira, a quem passei a chamar de Madrinha, tempos depois. Ela me encorajou e respondeu:

"Sim, vai lá em casa segunda-feira que é um dia mais tranquilo e eu te ajudo nisso."

E na segunda-feira, no horário marcado - 20h - eu cheguei. Saí de lá às 5h da manhã, depois de aprender minhas músicas, aprender muito sobre amizade e generosidade, beber alguns uísques e ouvir, fascinado, o CD "João Nogueira e Paulo César Pinheiro" da série Parceria, disco que ela havia me recomendado.

Guardo esta noite no meu relicário de lembranças como uma das mais importantes e significativas para a minha vida. Sabe porquê? Ouçam a gravação abaixo. Vocês vão entender o valor que teve a ajuda da Helena para mim naquele contexto. Quem ajudaria um garoto novo cantando assim? Não sei não...


"Quarta-feira de Cinzas" (Leandro Fregonesi)

.

A amizade e a cumplicidade musical que nasceu entre mim e Helena Pinhero me inspira para muitas batalhas nessa carreira musical que escolhi pra mim.

Helena foi minha primeira incentivadora fora da minha família. Foi o primeiro olhar crítico que me aprovou. Foi o primeiro elogio que veio de alguém que não me conhecia.

Este incentivo está guardado aqui no peito e se manifesta forte sempre que é necessário.

Mas tem um momento em particular que é realmente mágico. Lembro dela e das coisas que ela me disse lá no comecinho embrionário da minha carreira, quando faço um samba novo e penso, na mesma hora:

"Esse a Helena vai gostar de ouvir!"

Encerro este texto por aqui, sinceramente, com lágrimas nos olhos de lembrar dessas histórias, com uma frase que também aprendi com ela. Quando algum músico faz algo muito bonito no instrumento, ela diz, com um sorrisão generoso:

"Obrigado, Fulano!"

.

Então, pra ela:

OBRIGADO, HELENA PINHEIRO!


Foto tirada em Brasília, após um show em que ela cantou comigo.

.

Aguardem! Vem aí o primeiro disco da Helena Pinheiro, com sua obra linda obra autoral, contendo, para minha alegria, as nossas "Parece Ontem" e "Quem Sabe".

terça-feira, 20 de julho de 2010

Dois Mestres. Três gerações.



Estive com Moacyr Luz em Campinas, no Tonico’s Boteco, o principal ponto de referência do samba por lá. Esta foto, inclusive, foi tirada no dia, em 2002.

Assisti ao seu show e depois conversamos um pouco. Nada muito sério.

O mesmo encontro se repetiu em 2005, no mesmo bar.

Dessa vez, porém, acabamos retornando ao Rio juntos e foram 6 horas de viagem. Aí sim, muita conversa, muitas histórias e eu fui conhecendo melhor o artista que muitas vezes eu vi tocar no Bip-Bip, aqui em Copacabana, de quem eu já tinha alguns CDs, mas pouco conhecia de sua trajetória.

Estava adentrando o maravilhoso mundo musical de um dos mais respeitados sambistas da atualidade.

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Curiosidade:

Ainda em Campinas, na hora do almoço, na casa do Paulo Henrique (dono do Tonico's Boteco), deu tempo do Moacyr empunhar seu violão para uma mini tocata, de meia hora, no máximo.

Ele cantou músicas suas e pediu, sem cerimônias:

"Fregonesi, canta um samba aí."

E eu tive a honra de cantar “O Mundo é um Moinho” (Cartola) ao som do violão do Moa, num momento em que ele estava muitíssimo inspirado, solando lindamente, além dos acordes da canção.

Estávamos entre amigos. E sem percussões.

Daí, caiu a minha ficha: o violão tocado por Moacyr Luz é mesmo mágico.

.

Voltando (pro Rio).

.

A viagem terminou, nos despedimos e eu disse: “Moacyr, estou em vias de gravar um disco e gostaria de te mandar umas letras para você musicar, sem compromisso, SE você gostar.”

Ele foi meio reticente: “Tá, Fregonesi, manda sim. Eu ando meio enrolado com muitos shows e projetos, tem muitas letras do Aldir (Blanc), do Luiz Carlos (da Vila), do Paulinho (César Pinheiro), do Hermínio (Bello de Carvalho) que estão comigo há meses e eu ainda nem fiz nada. Mas manda sim...”

Mandei três.

Ele escolheu uma delas, “É Verdade”, e fez a melodia sem alterar nem uma vírgula da minha letra original. Coisa de Mestre.

Aqui está a gravação que entrou no meu disco “Festa das Manhãs”.
(O início com o Moacyr cantando na fita k-7 NÃO ESTÁ NO CD).



É VERDADE
(Moacyr Luz / Leandro Fregonesi)

É verdade
Você vai deixar saudade
No meu peito
Que é metade encantamento
Metade dor

Seu amor
Não passou de falsidade
Foi talvez contra a vontade
Bem ao gosto da ilusão

Você errou
Ao dizer que me queria
Tentação e covardia
Fui fantoche em tuas mãos

E agora que acabou sua magia
Acabou minha alegria
Com o fim da união

A cabeça te procura
Vai às tontas
Nesse imenso faz-de-conta
Tanta farsa a troco de emoção

Você partiu
Nem sei dizer pra onde
Se escondeu lá muito longe
Sem notícia, sem recado, sem saber
Que as batidas do meu peito
Que eram todas por você
Hoje batem sem saber porquê

.

Convidei MONARCO para dividir comigo esta música no meu CD e ele aceitou prontamente, com a generosidade que só quem é das antigas sabe exercer.

E o que falar sobre Monarco?

Qualquer texto meu será pequeno perto da sua estatura musical. Mas vou tentar.


Foto do celular, 2010.

Monarco é O CARA. É a Enciclopédia Viva do Samba.

Sabe tudo. Canta tudo. Lembra de cór dezenas de sambas que ninguém jamais se lembraria que existem, graças à sua ótima memória. Alguns desses sambas, acho que nem os próprios compositores guardaram registro, à época, posto que nunca foram gravados e muitos dos compositores mais antigos até já faleceram.

Monarco conheceu e conviveu com praticamente TODOS os personagens mais importantes do Samba. Conta histórias que deveriam ser mais ouvidas e valorizadas.

E faz uma coisa rara: divide com a gente, da nova geração, a sua experiência. E o faz de forma tão natural que, num simples bate papo, Monarco e Samba passam a ser uma coisa só.

Dedicou toda a sua vida à Portela. Aprendeu com Paulo e com Natal.

Conta que sofreu um bocado. De muitas maneiras.

E fica fácil perceber que venceu na vida pelo talento.

Tem, além do seu acervo autoral de grandes sucessos gravados por outros artistas, o maravilhoso legado de Intérprete, seja solo ou com a Velha Guarda da Portela, com seu timbre de voz imponente.

Monarco é o pássaro que vai na frente.

E, acima de tudo, é um homem de alma humilde, um artista sem chatices e sem aquela vaidade de se mostrar superior. Talentoso como poucos. Compositor hábil e popular.

Tive a sorte de já ter feito alguns shows com ele e posso afirmar:

Monarco não canta. Ele dá aula de Samba.

.

Quando saiu o meu disco "Festa das Manhãs" com a música "É verdade", o jornalista Paulo Márcio Vaz, do jornal O Fluminense, de Niterói, escreveu sobre mim, a partir do que ouviu no CD:

"O samba pode se gabar de ter um compositor que garante a qualidade do gênero por, pelo menos, mais uma geração."

.

Então, se é assim, em "É Verdade" temos: dois mestres e três gerações do mesmo samba.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Ésse, ó, éle, i, dê, a, til, ó


"Flor Sem Xaxim", com Leandro Fregonesi e Áurea Martins

Ainda não conheci nada mais dilacerante que a solidão. Não a solidão por opção, tipo querer ficar sozinho, desligar o celular, não abrir a internet, não responder aos amigos em certos dias de pouca animação e de recusar convites, alegando que “é uma fase em que prefiro ficar sozinho” ou “fechado para balanço”.

Falo da solidão de não ser procurado. De parecer ter sido esquecido por todo mundo, sem exceção.

De ter certeza que ninguém vai fazer contato, por mais que se queira. E é tudo o que se quer.

De estar, ao mesmo tempo, longe de casa, da família, de todos os amigos, da cidade em que se nasceu e viveu a vida inteira. E longe da fé.

Lon______________________________________________ge.

A solidão inevitável dos primeiros dias de quem busca construir uma vida nova em outra cidade, por exemplo.

Aquela solidão que é vizinha da depressão no andar de baixo, da fraqueza no andar de cima, da insegurança na parede direita, do cansaço na parede esquerda, das dúvidas na janela dos fundos. E da tristeza, vizinha da porta da frente, que muitas vezes vem pedir algum ingrediente para o seu bololô.

Uma solidão que não esbarra na rua com a esperança.

Pendure no cenário dessa solidão: o pai que há anos sequer telefona, com outra família já constituída como prioridade absoluta e a mãe de difíceis negociações emocionais, garantia de brigas intermináveis que, quando faz contato, estraga o dia.

Jogue o foco da luz para o fato mais relevante de todos: a morte do único irmão que se tinha. Morreu com 32 anos, vítima de câncer - "essa doença filha da puta!" - que o liquidou em 2 meses de angústia e sofrimento.

Deu pra entender, né?

Ésse, ó, éle, i, dê, a, til, ó = SOLIDÃO.

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Como dizem as pessoas que querem falar de sexo sem se expor: “Essa história não é da minha vida, mas é da vida de uma pessoa que conheço”.

Mas é verdade. Tudo isso aconteceu.

Bem na minha frente.

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E foi inspirado por esse contexto que eu escrevi, numa madrugada de profundo silêncio, esta canção:

FLOR SEM XAXIM
(Leandro Fregonesi)

Duas voltas na chave da porta
Ninguém vai chegar
E aqui dentro não tem lua cheia
Nem vento que sopra
Nem brisa de mar

Nas paredes, nos cantos da casa
A voz me embaraça de tanto ecoar
E eu vivo aqui
Quase morto

A cidade não olha por mim
E eu não faço questão de você perceber
Ninguém vê que eu invento alegria
Que eu minto euforia pra sobreviver

No espelho a imagem que eu vejo
Me traz mais desejo de ver mais você
Perto de mim
Aconchego...

E o que falta pro meu coração
É saltar esse vão que me afasta de mim
Eu preciso me reconhecer
Pra que eu possa fazer companhia pra mim

Mas me sinto de asa quebrada
Com rodas quadradas
Quintal sem jardim
Flor sem xaxim
Fé sem crença
Solidão é a doença
Que quer me matar

.

Eu a gravei, no meu disco “Festa das Manhãs”, que foi dirigido pelo Ivan Paulo.

A música ganhou o arranjo de Rildo Hora.

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Curiosidade 1:

Dias antes da gravação o Rildo me ligou para perguntar se o tom poderia mudar para ré maior, pois eu havia pedido que o arranjo fosse em mi maior para o disco: "Leandrinho, é o Rildo! Se essa música mudar para ré maior, dá para fazer uma coisa mais interessante no arranjo, usando as cordas soltas, como baixo, nos acordes do violão".

Eu: "Claro, Rildo! Que bom que você ligou, porque eu compus a música originalmente em ré maior mesmo e estava nessa dúvida entre o ré e o mi".

Rildo: "Então vou manter o arranjo que eu já fiz aqui em ré, ok?"

E, para minha surpresa, ele arrematou: "Olha, tanto essa música quanto aquela outra lá (Futuro do Pretérito, meu bolero de 8 minutos, que também ganhou arranjo dele) são muito boas. A gente quase não vê mais música desse tipo por aí. E as pessoas não me chamam para fazer arranjos desse tipo, porque acham que eu só faço samba, sabe? Mas na verdade eu gosto também de atacar nessa área das canções mais calmas. Gostei muito mesmo. Você um dia será meu parceiro, porque faz músicas muito boas".

E, não cabendo em mim, retruquei: "Puxa, Rildo, muito obrigado. Que bom que você gostou. Vindo de você, eu vou até acreditar que as músicas são realmente boas".

Curiosidade 2:

No meu aniversário do ano seguinte, ele publicou no site da Agenda Samba e Choro o seguinte texto, na íntegra:

"Leandro Fregonesi é um rapaz culto, inteligente e talentoso. Trabalhei com ele no seu disco Festa das Manhãs, produzido pelo amigo-maestro Ivan Paulo. Gostei do trabalho e agora, com alegria, vejo que está fazendo o certo, ganhar a estrada. É nela que se aprende com os que por lá já passaram, o roteiro do infinito Caminho das Pedras.

Dizem que o Caminho das Pedras foi descoberto por meninos que queriam saber do mundo e suas nuances. Guiados pela esperança pegaram a estrada levando a sina, alguns que não gostam de caminhar, foram ficando. Os mais persistentes, que chegaram ao final, descobriram num livro de consultas a palavra experiência, e muitas coisas. Ao entenderem seu significado, continuaram consultando, vivenciaram alegrias e tristezas, redescobriram suas vontades.

Há quem diga que o Caminho das Pedras vai dar na Terra dos Sonhos, onde moram artistas e pensadores.

Leandro Fregonesi, futuro parceiro musical, pretende chegar lá com seus poemas e esperanças. Conseguirá."

Rildo Hora
Março de 2006



No estúdio, com os maestros Rildo Hora e Ivan Paulo.

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Convidei para cantar "Flor Sem Xaxim" comigo no CD ninguém menos que:

ÁUREA MARTINS!

Áurea nos fez chorar a todos no estúdio quando interpretou, à sua linda maneira, a minha música mais triste de todas que já foram gravadas até hoje.

Palavras do Ivan Paulo: "A Áurea parece que canta com lágrimas na voz".

.

Curiosidade 3:

Dizem que a Elizeth Cardoso, de quem Áurea é contemporânea, falava:

"Agora que acabou meu show, quero ir ver a Áurea cantar".

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Cavalo de Tróia e Força Maior


Camarim do Canecão, no lançamento do CD do Diogo, que gravou "Força Maior"

"Dois astronautas voltaram no tempo e presenciaram a Vida, Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão de Jesus de Nazaré". Assim se apresenta o livro "Cavalo de Tróia" (autor: J.J. Benítez), que li fascinado, numa fase minha de busca intensa por informações sobre a vida e a obra do Cristo.

Antes desse livro, eu já havia ficado atônito com o filme "Paixão de Cristo", do Mel Gibson, que tem argumento semelhante ao do "Cavalo de Tróia". E antes do filme, eu já vinha lendo umas coisinhas a esse respeito.

Ambos, livro e filme, tratam da inimaginável força física de um Gigante que estava muito além do seu tempo - do nosso tempo - e dizia que seu reino não era deste mundo, além de afirmar que, apesar das muitas moradas na Casa do Pai, o caminho é um só.

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E ficam as minhas perguntas de sempre:

Talvez porque Deus seja um só? Uma só? Deus é homem? Ou é mulher? É um ser? Ou uma força maior? Está acima? Abaixo? Entre nós? É a natureza? Ou é o progresso? Está nas atitudes? Ou nas intenções? Está vivo? Onde? Está com saúde? Ou agoniza? É uma equipe? Organizada? Caótica?

E quem será o Deus de Deus?

Eita porra!

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O fato é que "Cavalo de Tróia" foi um livro marcante pra mim.

Deu vontade de fazer um samba de roda falando de Deus.

E foi num bate papo de butiquim, aqui em Copacabana, que eu mostrei o embrião do refrão pro Ciraninho, meu parceiro de muitos sambas, irmão, camarada e amigo de fé.

Papo vai, papo vem e o refrão definitivo ficou simples e nos agradou:

"Deus...
Louvado seja Deus."

Fácil e objetivo, como devem ser os textos que pretendem dar algum recado.

Quer ver o texto simples de um "Recado"?
"Amai-vos uns aos outros."

Convenhamos: é simples, né?

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E o mote do resto do samba veio da nossa vontade de falar sobre essa coisa escrota de se brigar, discutir, não-tolerar e fazer picuinhas por motivos religiosos.

Estávamos comentando que todas as religiões, em certos aspectos, são caminhos bons. Todas valem. Todas levam a algum lugar psicologicamente melhor. Todas consolam. Todas, de alguma maneira, esclarecem alguma coisa a alguém. Todas louvam alguma força maior que nós não sabemos ao certo o que é.

Talvez o "único caminho" seja não desistir da busca.

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Acho que chamamos de "Deus" tudo aquilo que nos foge ao entendimento.

E a partir daí, cada um vai na sua viagem, na sua busca pessoal, com sua crença e sua bagagem nessa aventura da vida.

A minha viagem, com minha bagagem, é:
"Creio em Deus porque seria realmente bom que ele existisse".

Outra gelada?

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Voltando.

.

Saímos do refrão pra primeira e o samba foi se desenrolando.

E volta pro refrão, na estrutura de um samba de roda.

E cai pra segunda.

Dias depois, na hora de fechar a segunda, nos encontramos com o Diogo Nogueira, nosso parceiro neste samba, que foi sugerindo trechos de letra e de melodia para compor o que ainda faltava.

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Curiosidade 1:

O Diogo tem tatuado "Jesus Cristo" no corpo.

Eu e Ciraninho também. No fundo do peito.

Curiosidade 2:

Neste dia, 15/01/2009, em que terminamos o "Força Maior", horas antes, eu e Ciraninho estávamos juntos, na Quadra da Lapa, entregando o nosso samba-de-embalo que concorreria no Bloco Simpatia É Quase Amor e que, poucos dias depois, nos daria o tetra-campeonato consecutivo no Bloco (2006, 2007, 2008 e 2009). Um feito inédito. Outro dia eu falo mais disso.

E, da Lapa, ligamos pro Diogo:
"Aí Cumpadi, estamos na pilha de fechar o 'Força Maior' HOJE-AGORA. Onde você tá? Em reunião na Barra? Estamos indo aí!!! Tem cavaco?"

Curiosidade 3:

Resposta do Diogo: "Pô, Bicho, vem que eu dou um jeito. Vou levar o cavaco do Alceu (Maia), que está aqui comigo na reunião e disse que empresta. Serve?"

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Maravilha! Samba fechado a 6 mãos, num quiosque da Praia da Barra, com o cavaco do Alceu Maia, no final de uma madrugada que nos brindou com um nascer do Sol daqueles de fazer foto:


Foto do meu celular, às 5:40h do amanhecer do dia (seguinte) em que nos encontramos, eu, Ciraninho e Diogo Nogueira, para terminar o "Força Maior".

Cantamos o samba "no clima" umas cinco ou seis vezes e o Diogo gostou tanto que, imediatamente, soltou a frase que todo compositor ama ouvir: "Vou gravar, meu Cumpadi!"

E o que era para ser um simples samba de roda, ganhou uma introdução bonitona e ficou assim:


Gravação de Diogo Nogueira, no CD 'Tô Fazendo a Minha Parte"

FORÇA MAIOR
(Leandro Fregonesi / Diogo Nogueira / Ciraninho)

Minha força é a fé
Que carrego no fundo do peito
Quando nada dá pé
É amém, é axé
Não tem jeito
No terreiro Ele é Oxalá
No Oriente Ele é Alá
Ninguém sabe como explicar
Essa força maior
Ele sempre estende a mão
Não importa a religião
Não tem raça, não tem nação
Porque Deus é um só

Deus
Louvado seja Deus

Deus está no coração que concede o perdão
No coração que é feliz vendo o outro feliz
É o perfume que vem da natureza
Flor que renasce no solo da impureza
Uma estrela a me guiar
Manto que aquece a família
E protege o meu lar

Ele é o céu, água do mar
Luz do luar, Sol do Verão
Enche de paz minha oração
Me dá guarida
Vento que traz inspiração
Força da vida
Ventre de todo Universo
No verso da minha canção

.



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Foi assim que, das páginas do "Cavalo de Tróia", nasceu "Força Maior".

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Do Catete a Ipanema: um samba

Em 2008, dentre mais de 500 inscritos de todo o Brasil, tive a felicidade de ganhar o Festival "Bota Pra Fazer Música" (categoria Samba), no Teatro Odisséia, Lapa, por unanimidade do júri formado por especialistas como Teresa Cristina e Dorina.

Por isso, fui convidado a fazer um programa ao vivo nos estúdios da Oi, patrocinadora do Festival, em Ipanema.

Dentre os amigos que chamei para tocar comigo neste programa, estava João Martins, malandro do Catete, meu parceiro de grandes sambas, muitos deles ainda inéditos.

Fomos juntos pro compromisso, no meu carro.

Dentro do carro, a caminho do estúdio, João pegou o cavaco: "Pô, Fregona, bora terminar AGORA aquele samba lá?! Canta aí a cabeça". Eu tinha mostrado pra ele a primeira numa daquelas quartas-feiras do Guanabara, em que o Pagode rolava bonito sob o comando do Negão e do Nézio.

Então, eis que no trajeto de 10km entre o Catete e Ipanema, fomos a diversão do trânsito carioca (principalmente nos sinais fechados), tocando, cantando, batucando no volante, no painel, compondo a segunda e o refrão. Com a empolgação necessária para um bom samba nascer e ganhar corpo na voz.

Samba pronto! Nome da criança: "Nova Era"

Chegamos no estúdio.

Teste de som. Tudo ok?

Valendo!!!

O programa ao vivo começou. Estávamos online para o mundo inteiro.

Entre um papo e outro com o apresentador, fui cantando sambas meus e, ainda meio inseguro na letra e na melodia, me arrisquei a cantar "Nova Era", o samba que acabara de nascer, minutos antes, de parto normal, no meu carro.

Aí está:


Gravação do grupo Deu Branco

NOVA ERA
(Leandro Fregonesi / João Martins)

Água rolou
Da cachoeira prateada
Foi descendo pela mata
O riacho começou
Folha caiu
Por cima da terra molhada
Da semente germinada
A vegetação brotou

Nasceu da luz do Sol um novo dia
Rompeu a esperança no olhar
A natureza anuncia nova era
Ai, quem me dera
Novo amor também chegar

Para reviver, para clarear
Ai, quem me dera
Novo amor também chegar

.



Desde então, Eu e João Martins já dividimos "Nova Era" em vários shows e rodas de samba, sempre com o mesma alegria de quem fez do trânsito turbulento entre Catete e Ipanema a melhor coisa que poderia ter acontecido naquele dia.

.

A cantora Renata Jambeiro, que desponta em Brasília, também gravou esta música no seu DVD "Sambaluayê".

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Luiz Carlos da Vila

Retemperar (Leandro Fregonesi / Luiz Carlos da Vila)



Duas postagens anteriores e duas citações a Luiz Carlos da Vila não são mera coincidência. É que ele foi mesmo muito importante na minha vida de compositor. E o pouco que pude conviver com ele me deixou lições bonitas.

Mas como pode ser importante um parceiro com o qual se fez apenas uma música?

É que ele era genial. E quando se tem a chance de compor com alguém genial, fica a sensação de sermos igualmente geniais por termos entrado no hall dos parceiros aceitos por esses geniais que admiramos.

Genialidade e generosidade. Palavras que até se parecem, talvez por terem convivido tanto tempo juntas dentro de um mesmo Luiz. O genial “Da Vila” foi generoso comigo, desde a primeira vez que nos encontramos no camarim do Teatro Rival, para participarmos do show do nosso parceiro comum Riko Dorilêo.

Lá, ele disse: “Ah, você que é o Fregonesi? Tem mais alguém com esse nome no samba? Já ouvi falar de você, mas achei que você fosse mais velho”.

E, na intenção de não importuná-lo demais com minha imensa admiração pelo seu talento e trabalho, respondi apenas: “Sim, sou eu. E sou muito seu fã. Gostaria de poder compor junto com você”.

Ele arrematou: “Claro, vamos trocar umas idéias. Mas não só de música. De vida também”.

Eis que eu chego em casa e não durmo enquanto não faço uma primeira daquelas classudas para mostrar a ele. Para que ele não recusasse a parceria.

Só dormi quando fechei esse começo de samba:

“Porque você agiu assim tão sem juízo
E, sem aviso, resolveu que nunca mais?
De madrugada fez as malas de improviso
Alegando que eu não valorizo o que você me faz
É seu direito ir atrás do paraíso
Eu fui narciso nas questões sentimentais
Meu bem, perdoa por tamanho prejuízo
Se é pra ter o teu sorriso
Eu me sensibilizo e volto atrás”

Liguei pro “Da Vila” e marcamos que eu deixaria uma fitinha k-7 pra ele no estúdio da editora EMI, onde ele teria reunião naquele dia e onde faríamos fotos para um show em que ele seria meu convidado, no Sacrilégio, Lapa.


No detalhe, com a letra e a fita k-7

Entre uma foto e outra, sobrou um tempinho e havia um violão no canto do estúdio. Ele disse: “Eu vou ouvir a fita quando chegar em casa, mas toca no violão o que você fez pra eu conhecer”. E lá fui eu mostrar pro meu ídolo o que eu tinha feito.

Ré menor. Alegria e apreensão fizeram com que eu tocasse cadenciando o samba.

Cantei duas vezes, reforçando alguns trechos na minha interpretação para que ele captasse a intenção da música.

E veio a resposta que pareceu um sonho: “Deixa a segunda pra mim!”

Não sabia como retribuir. Não sei até hoje.

Poucos dias depois, ele trouxe a segunda inteira pronta, modulando para ré maior, com sua musicalidade inconfundível:

“Retemperar o velho amor
Cuidar do tato e do sabor
O tempo é o maior professor da existência
Intransigência não faz ninguém mais feliz
O mal que eu fiz o teu perdão poderia perdoar
Livrar-nos de qualquer resquício da pendenga
Acabar com a lenga-lenga
Sem ouvir o leva-e-traz
São naturais entre os casais coisas assim
Abafa o caso e o estopim
E vamos viver em paz”
.

Eu estava gravando o disco “Festa das Manhãs” e mostrei pro maestro Ivan Paulo, diretor musical. Resposta do maestro: “Que samba bom! Vamos gravar, certo?”

“Gostou mesmo, Ivan? Porque eu adorei!”

Arranjo a cargo de Mauro Diniz.

E tive o segundo ato de ousadia: convidei o “Da Vila” pra cantar em dueto comigo. Ele aceitou, reforçando: “Olha, você sabe que eu não sou cantor, né? Mas como a música é nossa, eu aceito participar”.

E depois ele fez comigo o lançamento do disco tanto no Rio quanto em São Paulo, cantando juntos a nossa nova “Retemperar” e muitos dos seus sucessos.

Em Sampa, feliz por se julgar plenamente recuperado do "probleminha" de saúde pelo qual passou, ele me fez um dos maiores elogios que já recebi na minha carreira. E o fez sem perceber, como devem ser os atos de grande generosidade. No meio do papo, ele soltou : “Fregonesi, acho que pela primeira vez eu não mudei nem uma vírgula de um samba que me foi dado para terminar”.

Generosidade se paga com generosidade. E a última coisa que consegui falar para o genial e saudoso Luiz Carlos da Vila, no intervalo de um dos seus shows, no Carioca da Gema, foi: “Da Vila, eu adoro te ouvir cantando. Sua voz é o melhor trompete do samba”.

Ele riu e deu um gole no uísque.

Áfricas do Sul

Nessa época em que TUDO gira em torno de Copa do Mundo, lá vou eu! Mas vou pela tangente, só pra aproveitar o mote.

Em 2008, num bate papo de msn com minha amiga Monique Kessous, excelente cantora e compositora com quem tenho algumas parcerias, me propus a escrever uma letra de improviso abordando temas mediterrâneos.

Num repente veio essa "Mediterrânea". Mandei pra ela. Ela gostou e fez uma música, chamada "Noites em Turim", inspirada na minha letra, mas usando apenas fragmentos do que eu escrevi e, generosamente, me colocou como parceiro da música também.

E o que isso tem a ver com a Copa do Mundo? Nada. Mas tem "Áfricas do Sul" lá no meio.

E assim eu aproveito o mote...

MEDITERRÂNEA*
(Leandro Fregonesi)

Sais do Mar Egeu
Águas de Jasmim
Pedras de Turim
Flores de Madri

Luzes de Paris
Frutas do Irã
Cheiros de Avelã
Ouros, mirras, chás

Véus de muita cor
Ventos de Israel
Cravos de Istambul
Luas pelo céu

Áfricas do Sul
Sons de Gibraltar
Velas de Kabul
Só você e eu

.

* Por essa letra ter sido preservada praticamente intacta, eu decidi que a mandaria - essa sim! - para o Luiz Carlos da Vila musicá-la por inteiro. Achei que ele, dentre os meus parceiros de samba, seria o que melhor traduziria as imagens e emoções que eu quis passar ao escrever. E assim fiz, indo em um dos seus inesquecíveis shows no Carioca da Gema, na Lapa. Ele leu o papel na hora e disse: "Bonito! Gostei. Vou fazer!". Só que essa não deu tempo de terminar.

E continuam aqui a letra e a saudade dele. E da Monique também, que já não vejo há alguns meses, em função da correria da vida.




Pra quem ficou curioso para ouvir "Noites em Turim" (Monique Kessous / Leandro Fregonesi), aqui vai uma demo:

Boas vindas!

Amor Imperfeito (Leandro Fregonesi / Ciraninho)



Para começar bem este Blog, uma música que dá boas vindas ao amor. Gravada por Diogo Nogueira, no disco "Tô Fazendo a Minha Parte", em 2009. "Amor Imperfeito" ficou entre as 3 músicas mais pedidas da MPB FM (90,3).



AMOR IMPERFEITO
(Leandro Fregonesi / Ciraninho*)

Bem-vinda seja a paz de volta ao nosso lar
Depois de tanto guerrear o amor venceu
É mais que um sonho, eu nem posso acreditar
Abre a porta, pode entrar
Vem ver que nada que foi nosso se perdeu

Pra que brigar e tentar se desfazer
De um amor que o bem querer
Tratou de erguer e defendeu?

Que bom te ver
Esta luz no seu olhar
Hoje há de me guiar
Pr’eu acordar nos braços teus

E quando acordar eu quero te amar
Do jeito que eu sempre te amei
Matar a saudade que o tempo deixou no meu peito
Tirar esse nó da garganta
Viver esse amor imperfeito
Um amor que apesar das barreiras
Nunca foi desfeito




*Ciraninho é dos meus mais queridos amigos e parceiros de samba. Nossa trajetória compondo juntos já tem quase 10 anos. Mostrei essa primeira pra ele, em abril de 2005, dizendo que deixaria para o Luiz Carlos da Vila fazer a segunda, mas daí ele veio logo com a segunda pronta e ficou. E eu troquei bamba por bamba.