Fui assistir ao filme “Uma Noite em 67”, que é um documentário sobre o Festival daquele ano e seus principais Artistas.
No meio do filme, me veio a pergunta que não quer calar: onde foram parar as vaias?
.
.
Reparem:
Quem gostava, aplaudia. Com emoção.
Quem não gostava, vaiava. Com a emoção oposta.
.
A possibilidade de ser vaiado fazia com que o Artista repensasse o que fazer diante do público.
.
Mas as vaias ficaram no século passado, né?
Agora tudo é aplauso!
Qualquer um canta qualquer coisa e: clap, clap, clap!
Se a quantidade de palmas não for suficiente, o artista remenda:
"Quem gostou faz barulho aí, PÔ!"
E quem não gostou faz o que? Apenas silêncio?
PÔ! A vaia era o "barulho" de quem não gostou.
.
"Aplauso x vaia" virou "barulho x silêncio"?
.
Aplaudir tornou-se uma imposição social velada. É a única opção. É pseudo-elegante.
Mas aplaudir não era apenas UMA entre DUAS opções?
O aplauso não era para ser um apoteótico "sim" contrapondo-se ao desconcertante "não" da vaia?
.
O "sim" sem o "não" não perde totalmente o seu sentido?
.
Mas o entendimento moderno é o outro: quem aplaude é gente boa, tá feliz, bem resolvido e de bem com a vida.
Quem vaia tá amargurado, tá triste, deve estar fudido, com algum problema sério ou deve ter brigado em casa.
.
Então, "aplauso x vaia" deixou de ser uma medida do desempenho do Artista e passou a ser uma medida da psicologia do ESPECTADOR.
.
"Gente, vamos bater palma pro Fulano que acabou de cantar!"
Entenda-se: "Gente, vamos fingir que todo mundo gostou, né?"
Que solidariedade às avessas é essa? Ser elegante mentindo?
E quem não gostou da apresentação - geralmente imposta - do Fulano?
É obrigado a bater palma bem fraquinho, em sinal de desaprovação?
Como assim? Aplaudir para desaprovar?
.
Alguém vai dizer: "O Fregonesi tá maluco. Quem foi que disse que pega mal vaiar?"
Não é que pega mal...
Mas esse mesmo alguém vai te perguntar:
"Está tudo bem com você? Você está vaiando?"
"Sim, comigo tá tudo ótimo! Quem não tá nada bem é aquele artista ali..."
.
E ninguém vai deixar claro pro artista que ele mandou mal?
Tadinho.
Vai mandar mal a vida toda, jurando que mandou bem?
Não seria melhor ter vaiado pra depois o cara melhorar e MERECER um caloroso e justo aplauso?
Muitos responderão: "Não! Vamos dizer DEPOIS, com calma, em particular pro cara que ele mandou mal..."
Mas ele NUNCA vai entender que mandou mal se, na verdade, todo mundo "aplaudiu pra caramba".
E talvez ele pense que você só sabe é reclamar de "tudo". E você vai ficar com cara de otário e fama de chato, mesmo que esteja coberto de razão.
Porque só quem aplaudiu é bacana.
.
“Vaias x aplausos” eram as dicas no “Jogo da Vida” do Artista.
APLAUSOS: Avance 5 casas. Você mandou bem.
VAIAS: Volte 10 casas e tente novamente. Você mandou mal.
.
Dizem que os Artistas da "Época dos Festivais" eram melhores que os atuais.
Discordo 100%.
Os Artistas de agora são tão bons quanto.
Mas concordo que na "Época das VAIAS" os Caras ficavam mais criteriosos para não passarem vergonha.
Portanto, não ERAM melhores. TORNAVAM-SE melhores.
.
Conclusão:
Atualmente, com esse monte de aplauso sobrando por aí, nós, Artistas, temos que reafirmar a nossa música e o nosso ponto-de-vista artístico APESAR DOS APLAUSOS que sempre recebemos.
.
Momento cultural:
No citado Festival de 67, a classificação final foi:
1º- Ponteio (Edu Lobo / Capinam)
2º- Domingo no Parque (Gilberto Gil)
3º- Roda Viva (Chico Buarque)
4º- Alegria, Alegria (Caetano Veloso)
5º- Maria, Carnaval e Cinzas (Luiz Carlos Paraná)
Este 5º lugar foi um SAMBA cantado por Roberto Carlos!
Veja (a partir do minuto 3:40) as vaias e os aplausos que ele recebeu:
.
Conclusão 2:
Grandes Artistas são feitos de vaias e aplausos.
Época que tenho muitas saudades, apesar de toda ditadura e várias proibições.....a arte era plena, brotava, acho que era muito lirismo, sonhavamos com tempos melhores e lutavamos para isso...tinhamos mais vontade de lutar para melhor o país e o mundo.....hoje é tudo muito artificial...sei lá....eu acho!!!!!!!!
ResponderExcluirNão acho...
ResponderExcluirAcho apenas que as coisas mudaram e, mais pra frente, vão mudar de novo e assim a "Roda Viva" gira...
Tem que ser assim para surgirem novidades, prevalecerem os talentos (que viram clássicos) e o tempo apaga as porcarias que caem em desuso e somem.
Cada um escolhe o que ver, ouvir, aplaudir e vaiar, né? Escolher é o grande poder.
E viva a Liberdade que jamais poderá ser perdida, seja em que época for.
bjs do amigo.